terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Reportagem da revista Época sobre o vegetarianismo.

A moda do vegetarianismo – e seus riscos

Entenda quais são os perigos e como é possível manter uma vida saudável com uma dieta exclusivamente vegetariana

José Antonio Lima

Quando deu uma entrevista à ONG Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta), em abril, o ex-Beatle Paul McCartney causou furor. Segundo ele, uma das principais medidas que uma pessoa pode tomar para ajudar a combater o aquecimento global, e por tabela o sofrimento dos animais, alvo do Peta, é se tornar vegetariano. Para McCartney, as quantidades de água e terra usadas na produção de carne tornam a pecuária uma das maiores culpadas pelas mudanças climáticas. Como o músico, muitas outras celebridades, como os atores Richard Gere e Brad Pitt, por exemplo, têm adotado o vegetarianismo, um tipo de mudança de hábito que vem crescendo, como comprova o número cada vez maior de produtos vegetarianos que aparecem nos supermercados e de restaurantes naturais – alguns de chefs renomados – que são montados nas cidades brasileiras.


FAMOSOS

Vegetarianos convictos, o ator de Hollywood Richard Gere (à esq.) e o ex-Beatle Paul McCartney fazem lobby por esse tipo de comportamento para salvar o planetaPara deixar de lado a carne vermelha, considerada a maior vilã tanto em termos de danos ao ambiente quanto de saúde, e outras carnes, no entanto, é preciso ter cuidado para não desequilibrar a alimentação. "O importante é saber que tanto quem come carne quanto os vegetarianos podem ter problemas de saúde por conta de deficiências na alimentação", diz o endocrinologista e nutrólogo João César Castro Soares, da Universidade Federal de São Paulo. Segundo ele, o aumento do número de produtos e restaurantes naturais reflete uma quantidade crescente de pessoas que optam por uma dieta vegetariana, ou parcialmente vegetariana. "As pessoas evocam filosofia de vida, questões culturais e religiosas e medo de doenças cardiovasculares para reduzir o consumo de carne", diz.

Quem não liga para o destino do gado ou para o aquecimento global tem nas doenças cardiovasculares um motivo para diminuir a ingestão de carne vermelha. Responsáveis pela morte de 32% dos homens e 27% das mulheres, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde em outubro, as doenças cardiovasculares têm entre suas causas o acúmulo de acido úrico e colesterol, gerados pelo consumo em grande quantidade de proteínas animais, presente nas carnes. "O recomendado é ingerir carnes vermelhas duas ou três vezes por semana, intercalando com carnes brancas”, diz Soares.

SEM CARNES

É preciso ter atenção para manter uma dieta completamente vegetariana Reduzir a ingestão de carne vermelha não é uma tarefa fácil num país onde o consumo de carne bovina passa de 37 quilos por pessoa por ano. A saída mais simples é aumentar o consumo de carnes como as de frango e peixe. Mas quem faz isso não é considerado um vegetariano. Para tanto, é necessário cessar completamente a ingestão de todo o tipo de carne. Assim, a forma mais segura de rumar ao vegetarianismo é optar por uma dieta ovolactovegetariana, que inclui, além dos vegetais, pratos à base de derivados de leite e ovos. “Assim a pessoa não ficará sem as proteínas animais presentes nas carnes”, diz Soares.

A opção mais radical de vegetarianismo é o veganismo, uma filosofia que vem crescendo em todo o mundo e que proíbe seus seguidores de comer e usar qualquer produto de origem animal. O endocrinologista da Unifesp lembra que muitas pessoas que adotam esse tipo de comportamento, também conhecido como vegetarianismo restrito, substituem as carnes pela carne de soja, o que pode trazer carências nutricionais.

"A soja é o alimento que mais se aproxima da carne pela quantidade de aminoácidos que possui, mas ela não substitui totalmente a carne por falta de proteínas animais", explica. Segundo Soares, nesses casos é preciso recorrer a suplementos alimentares, como o de vitamina B12, presente apenas em produtos de origem animal. "A falta dessas proteínas e vitaminas pode causar problemas como anemia, queda de cabelo e fraqueza muscular".

Alerta: o vegetarianismo restrito não é para crianças

De acordo com Soares, a opção pelo vegetarianismo tem atraído principalmente os jovens, e muitos deles tentam transmitir esses valores para seus filhos, o que pode ser perigoso caso a opção da dieta seja muito radical. "O vegetarianismo restrito é totalmente contra-indicado para crianças e adolescentes com menos de 18 anos", diz. Ele explica que a falta de proteínas animais pode prejudicar muito o crescimento e o desenvolvimento da criança e trazer problemas como alterações funcionais nos órgãos.

Quando os ideais da família são intransponíveis e os pais desejam criar seus filhos com valores vegetarianos restritos, a solução é se preparar para cuidar diariamente de todos os detalhes da alimentação diária das crianças. "Nesses casos é preciso procurar conselho médico para evitar prejuízos para a vida da criança".

Comentários


Carlos Camacho | DF / Brasília | 02/12/2008 16:11

Criança vegetariana OK
Srs. Sou ovo-lacto-vegetariano desde os 3 anos de idade (agora tenho 43) e NUNCA tive nenhuma carência nutricional. Pelo contrário. Sou bem maior que meus pais e mesmo mais forte que a maioria da população (1,85 metro de altura, 93 kilos); corro 8 km e pratico halteres. Meus dois filhos são vegetarianos desde o útero (minha esposa já se tornara vegetariana então) e, aos 21 e 17 anos, respectivamente, vão muito bem obrigado. Penso que há muito preconceito e ignorância sobre o tema, até mesmo entre médicos. Aliás, pesquisas várias de universidades americanas contradizem as opiniões sobre os 'riscos' de ser vegetariano. Fica só o alerta de que, como tudo o mais, tal dieta deve ser seguida com equilíbrio, consumo de grãos, arroz, nozes, etc. No mais, é ser feliz e 'nadar contra a corrente' que nos leva aos churrascos e outras excrecências. Ser vegetariano: é bom sob o ponto de vista ambiental, social, pessoal e é reconhecer o direito que nossos irmãos animais têm a uma vida digna e sem o enorme sofrimento que a eles vem sendo impingido pela cruel matança cotidiana. As pessoas simplesmente não sabem com quanto sofrimento foi produzido seu bife. Sugiro a todos os curiosos que assistam ao vídeo 'A carne é fraca', do Instituto Nina Rosa. Vamos fazer um Natal mais cristão, com ceia vegetariana, por um mundo melhor. Sds.

Bruno Frederico Müller | RJ / Rio de Janeiro | 02/12/2008 15:10

Vegetariano não é doente!
Não é verdade que a maioria dos vegetarianos é doente. Tanto vegetarianos quanto não-vegetarianos podem ter carências nutricionais... se não se alimentarem direito! Os não-vegetarianos estão igualmente expostos a estas coisas, mas porque excluímos a carne, o leite, e os ovos da alimentação, subitamente o problema está na falta desses "alimentos"! Isso é um discurso ignorante. Qualquer vegetariano pode ser saudável, com alguns cuidados básicos. Não precisa ter um nutricionista de plantão, apenas bom senso ligado aos conhecimentos já consagrados da nutrição e a atenção à vitamina B12. A má alimentação é uma questão cultural, acima de tudo, e também social. As pessoas apreciam alimentos pobres ou nocivos (fast food, batata frita, doces, refrigerantes, etc.) e vivem correndo, pois têm uma vida agitada; comem o que tem pela frente sem preocupar com coisas básicas, como incluir frutas e fibras na alimentação. Quem tem esse estilo de vida - que muitas vezes é uma necessidade, não uma opção - vai ter problemas, independente de qual for a sua opção alimentar.

Roberto Locatelli | SP / São Paulo | 02/12/2008 15:05

Esses médicos...
Os médicos quase sempre morrem cedo, vivem menos do que a média da população. Por isso desconfio muito das opiniões deles.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI18148-15279,00-A%20MODA%20DO%20VEGETARIANISMO%20E%20SEUS%20RISCOS.html

Um comentário:

Produtos Digitais disse...

A alguns meses, decidi aderir à dieta vegetariana. Confesso que tem sido muito difícil, pois sempre fui carnívoro, principalmente, por carne vermelha. Mas eu sei também do benefícios desta reeducação alimentar, e que o esforço valerá a pena. Já está valendo, pois um efeito secundário (que não era meu objetivo principal) tem sido a minha perca do excesso de peso, e saudavelmente. Tenho o apoio e acompanhamento de um amigo médico, que também é vegetariano. Dentre outras coisas, ele me orientou a ingerir a vitamina b12 (cobalamina), explicando que a absorção desta vitamina é bastante reduzida na dieta vegetarina. Parabéns por este Blog, e este artigo.