terça-feira, 19 de maio de 2009

Sobre Platão e A República.



Platão, famoso filósofo da era socrática, não elaborou apenas teorias sobre a moral e a ética humana, mas também sobre as diversas relações entre os membros de uma sociedade. De fato, sua filosofia genuína começa quando escreve o diálogo "Apologia de Sócrates". Nele, torna-se público o discurso que Sócrates usou no dia do seu julgamento, quando teve que beber a famosa taça de cicuta - na época, esta era a forma de punir os condenados em Atenas. Do que se sabe hoje em dia, Sócrates foi o primeiro filósofo que focou seus pensamentos e teorias em contextos humano, social e moral. Antes dele, a filosofia limitava-se a sugerir hipóteses e buscar pela verdade sobre a criação do universo e de tudo o que nele existe, a exemplo da teoria atômica de Demócrito, usada até hoje em estudos científicos.

Ainda sobre Platão, quem nunca ouviu a história da alegoria da caverna, onde os homens estão acorrentados e tudo o que enxergam são sombras, projeções do mundo real? Essa é uma das (se não a) histórias mais famosas de Platão, em que se explica sua teoria do mundo das idéias.

No entanto, poucas pessoas sabem que a alegoria é apenas uma parte de um trabalho muito maior, que gerou diversas controvérsias na Grécia antiga. Ela é uma passagem citada em "A República", marco na obra filosófica e política de Platão. Nessa obra, são expostos uma metodologia de governo e modo de vida que, segundo o filósofo, seriam o ideal para a Grécia. E ideal não apenas por colocar filósofos e pensadores como os governantes principais do Estado, e sim por criar toda uma metodologia de vida que prepara os indivíduos para ocuparem posições sociais na comunidade.

Tudo começa já no início da vida. Para que fosse evitada a influência de maus hábitos, os filhos seriam tirados de suas mães já no momento do nascimento. Até os 10 anos, as crianças praticariam atividades físicas e estudariam música - essa como uma maneira de moldar seus sentimentos e caráter. Dos dezasseis aos vinte anos, o lado religioso seria trabalhado a partir do entendimento de que Deus está presente em tudo e é o principal fator de progresso de uma nação, uma vez que dá coragem e calma aos seres humanos. É importante lembrar que, para Platão, não é possível provar a existência de Deus, mas que sua suposição só vem para o bem.

Conscientes de que o bem é, na verdade, o conhecimento do mal, os jovens estariam preparados para a primeira Grande Eliminação. Esse é o grande começo da real divisão na República platônica, onde os que não obtiverem bons resultados em testes práticos e teóricos estariam fadados a trabalhos econômicos e operacionais, sendo designados como a classe de "guardiões" (ou "soldados"). Para os bem-sucedidos, mais dez anos de estudos e outro grande teste; desta vez, os que passassem poderiam finalmente unir-se à classe dos filósofos, dedicando-se integralmente ao estudo da filosofia e do mundo das idéias.

Até esse ponto, toda a metodologia social de Platão não parece muito diferente do que se conhecia na época. Não em termos de etapas do processo, mas sim na questão da divisão da sociedade, ficando tal separação ainda mais evidente pela divisão das funções de acordo com o desempenho de cada um. O que realmente a difere, portanto, é um outro teste ao qual os indivíduos classificados como aptos a se dedicarem ao mundo da filosofia teriam que se submeter. Antes de se tornarem governantes do Estado - isso deveria acontecer por volta dos cinqüenta anos de idade - os indivíduos deveriam "provar" como é ser mais um no meio da multidão, tendo que experimentar e observar tudo o que acontece na sociedade e lutar para conseguir comida e moradia.

A conclusão sobre a sociedade perfeita de Platão é simples: todos teriam oportunidades iguais, porém ocupando cargos diferentes na sociedade. Aos dirigentes do Estado, não seriam concedidas regalias. Muito pelo contrário: dormiriam todos em um mesmo local, alimentando-se de culinária vegetariana e possuindo apenas aquilo que fosse necessário para sua sobrevivência. Aos demais, a renúncia de certas virtudes em prol de uma comunidade era bastante clara: sexo, apenas dos trinta aos quarenta anos (homens) e dos vinte aos quarenta anos (mulheres).

Como justificativa para sua teoria, Platão dizia que a justiça, naquela época, era nada mais do que um jogo de interesse, cujas regras eram criadas pelos governantes e fundamentadas em seus próprios interesses. Sendo assim, o que Platão fez foi criar um sistema que julgou ser justo e adequado à necessidade da sociedade naquela época, norteado pelas teorias que havia desenvolvido em seus estudos sobre a moral humana.

(Baseado no diálogo “Politeia", escrito por Platão entre 380 e 370 a.c.)



Este artigo é contributo de uma leitora do obvious. Patrícia Posch é natural e residente no Brasil e escreve no seu recentemente criado diaphanes. Saiba como publicar um artigo.

Fonte:

http://blog.uncovering.org/archives/2009/02/a_republica_de_platao_uma_alternativa_para_a_organ.html

Um comentário:

Ana Alice disse...

Li a dissertação do mestrado do meu professor de Antropologia, se chama A Ironia: uma leitura a a partir de Kierkegaard, ele citava em várias ocasiões a obra de Platão.
Muito bom mesmo, ninguém deveria morrer sem ler...

Beijos amiga.